Renda fixa e renda variável: por que não um pouco dos dois?
Para ter uma carteira de investimentos equilibrada, é preciso contar com bons ativos de renda fixa e renda variável
Autor: Fabiana Ramos
Publicado em 02 de fevereiro de 2023
Quando falamos de renda, podemos separá-la em duas categorias: renda fixa e renda variável. A variável é um tipo de investimento em que a remuneração não é conhecida no momento da aplicação. O exemplo mais comum de investimentos de renda variável são as ações (mas não somente elas). Seus preços estão sempre mudando e não é fácil saber quanto dinheiro o investidor vai ganhar, ou mesmo se vai ganhar.
Por outro lado, renda fixa refere-se a investimentos que pagam juros sobre um montante do capital investido. O investidor pode receber esses juros ao longo do investimento ou os juros mais o capital investido na data de vencimento do título. Em outras palavras, é um investimento que geralmente resulta em retornos previsíveis pagos regularmente, a uma forma de remuneração previamente conhecida.
O que é renda fixa
A renda fixa nada mais é que uma forma de empréstimo. Como assim um empréstimo?
Vamos a um exemplo. Um cliente solicita um empréstimo ao banco, e este é concedido. Um outro cliente também solicita um empréstimo e é aceito. Cem clientes comparecem ao banco, naquele mesmo dia, fazendo o mesmo pedido. Como é que o banco tem tanto dinheiro para emprestar? Simples: esse dinheiro todo não é dele. Ele também pega emprestado!
Vamos supor que o cliente de um banco queira investir seu capital. O gerente do banco lhe oferece um CDB (Certificado de Depósito Bancário). Ao aceitar a proposta e investir R$ 1.000 em um CDB, o cliente está emprestando dinheiro ao banco, com a promessa de que será recompensado por esse empréstimo por meio do pagamento de juros a uma taxa previamente combinada.
O banco, por sua vez, tomará esse valor investido pelo cliente (R$ 1 mil) para realizar suas atividades (por exemplo, emprestar essa quantia a um cliente que solicite um empréstimo). O banco ganha dinheiro na diferença entre a taxa de juros cobrada do cliente tomador do empréstimo e da taxa que ele pagará ao investidor que adquiriu um CDB.
Então, existe uma espécie de “acordo” entre o cliente investidor e o banco tomador do empréstimo: o dinheiro será emprestado por um tempo, com a “garantia” de retorno do capital principal mais uma taxa de juros pré-acordada.
Tipos de renda fixa
O CDB do exemplo acima é um título de renda fixa. Podemos citar vários outros:
títulos do Tesouro Direto;
Letra de Câmbio;
CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários)/CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio);
Debêntures.
Os títulos de renda fixa podem ser emitidos por entidades privadas (como bancos e empresas) ou pelo governo. Todas essas instituições precisam de capital para financiar suas atividades, e uma das maneiras de adquirir dinheiro é por meio de empréstimos.
Renda variável
A renda variável é diferente. Não existe nenhum “acordo” entre investidor e empresa. Enquanto a renda fixa se baseia na relação de empréstimo, a renda variável tem mais cara de investimento mesmo. Isso porque investimento tem risco.
Isso não quer dizer que na renda fixa não exista risco. Todo investimento tem risco, mas na renda variável não existe nenhuma garantia de que o investimento dê certo.
Vamos ver o exemplo das ações. Quando um investidor compra ações, está investindo em uma empresa, e não emprestando dinheiro a ela. Ele precisa ter a cabeça de sócio, entrar no negócio sabendo o que está fazendo, saber analisar os números da empresa, seu valor de mercado, se lucra ou não, as perspectivas de crescimento, em qual setor atua, quem faz parte da administração.
Justamente por entrar como sócio da empresa, não existe garantia de que o negócio dê certo. O retorno sobre o investimento é incerto. Os ativos sofrem constantemente variação de preço, e pode ocorrer inclusive perda do capital investido.
Tipos de renda variável
As ações são os ativos mais populares da renda variável, mas existem outros:
fundos imobiliários;
ETFs (Exchange Traded Fund), ou fundos de índice;
contratos futuros;
câmbio
criptomoedas;
fundos de investimento;
derivativos;
opções.
É importante lembrar que a renda variável é extremamente sensível a alguns fatores, como: alteração da taxa de juros, política, situação fiscal do país, assuntos macroeconômicos e outros. Todos esses fatores influenciam o preço dos ativos, fazendo com que se valorizem ou desvalorizem no curto prazo.
Perfil de investidor
Para saber onde investir o dinheiro, é fundamental, antes de tudo, conhecer os perfis de investidores:
• Conservador: apresenta pouca tolerância a riscos e tem por prioridade a proteção do patrimônio.
• Moderado: aceita correr um pouco mais de risco em troca de maior rentabilidade.
• Agressivo: entende que o risco faz parte do negócio e tem boa tolerância a ele. Geralmente, quem tem esse perfil é o investidor mais experiente, acostumado com os altos e baixos do mercado.
Principais diferenças entre renda fixa e variável
Como dito, o investidor em renda fixa já sabe previamente qual a regra de remuneração do investimento. Ou sabe o valor exato que vai receber na data de vencimento do título ou sabe por qual fator de correção será remunerado.
Existem 3 tipos de remuneração na renda fixa:
• Prefixada: os juros fixos são estabelecidos no momento do investimento. Por isso, o investidor consegue saber quanto receberá no vencimento em reais.
• Pós-fixada: o investidor sabe, de antemão, qual o índice de correção do seu investimento, como a taxa Selic, o IPCA, o CDI. Não é possível saber exatamente o valor a receber, pois os índices variam ao longo do período, mas ele sabe de que forma será remunerado.
• Híbrida: um mesmo título tem remuneração prefixada e pós-fixada ao mesmo tempo. Uma parte dos juros será fixa (prefixada) e outra será atualizada ao longo do tempo (pós-fixada).
Na renda variável não há essa previsibilidade. É impossível saber quanto o investidor vai ganhar, ou até se vai ganhar.
Outra diferença também se dá em relação ao risco. Na renda fixa, apesar de o risco existir (por exemplo, o banco que tomou o empréstimo e vendeu o CDB pode ter dificuldades para pagar os investidores), ele é bem menor que na renda variável.
Vantagens e desvantagens dos investimentos em renda fixa e variável
Tanto a renda fixa quanto a renda variável têm vantagens e desvantagens, e não existe investimento melhor ou pior. Pelo contrário: eles se complementam.
Por um lado, a renda fixa é mais segura, mas, historicamente falando, seu retorno é menor. A renda variável é mais rentável, porém é preciso ter coração forte para aguentar o sobe e desce no preço dos ativos.
O ideal é compor uma carteira de investimentos equilibrada, tendo nela tanto ativos de renda fixa quanto de renda variável. O que muda é o percentual do patrimônio que deve fazer parte de cada grupo, e essa decisão deve estar completamente alinhada ao perfil de investidor de cada um.