O que é moeda digital e por que o Brasil deve adotá-la
A moeda digital segue a tendência mundial de transações online. Além de notas em espécie, o Banco Central emitirá o real digital. Saiba como funciona.
Publicado em: 10 de fevereiro de 2022.
A moeda digital brasileira atenderá pela sigla CBDC que corresponde à Central Bank Digital Currency e funciona como a versão virtual do dinheiro de um país. O Brasil ainda não emite o real digital, mas a tecnologia está na pauta do Banco Central. A agenda para a implementação do CBDC está prevista para iniciar em 2022.
Basicamente, cada país é soberano na emissão do dinheiro que entra em circulação e pode ser movimentado pela população. Hoje, todo dinheiro regulado pelo Banco Central é emitido em espécie, ou seja, é um papel moeda que corresponde à riqueza que circula e é regulada pelo Banco Central, operada pelas instituições autorizadas como bancos e instituições financeiras.
O Banco Central dedica 1% do PIB anual, que é a riqueza de bens e serviços produzidos no país, para a emissão, impressão, tutela, transporte e segurança do papel moeda. Em 2020, com a pandemia, houve um aumento na demanda pela impressão de dinheiro. A política pública de auxílio emergencial trouxe mais dinheiro para circulação entre a população não bancarizada.
A autoridade reguladora chegou a emitir a nota de R$ 200 para atender à demanda do dinheiro em espécie que entrou em circulação. Mas segundo o analista Fabio Araujo, da Secretaria Executiva do Banco Central, a tendência de longo prazo é diminuir a impressão – assim como hoje praticamente não se usa o formato cheque, apesar de ser uma opção ainda disponível.
“A gente não tem interesse em acabar com o dinheiro papel, essa é uma escolha das pessoas e nós queremos dar conveniência para que elas possam optar por não usar o papel. A gente não pretende proibir o papel moeda. As alternativas têm de estar abertas às pessoas para elas fazerem o mais conveniente”, explica Araújo.
Apesar de as transações financeiras já acontecerem em formatos digitais como pagamentos, transferências e Pix, o dinheiro que circula virtualmente também existe em espécie. Com a emissão da moeda digital, o Banco Central emitirá dois formatos: o impresso e o digital. A moeda digital será similar ao bitcoin, porém regulada pela autoridade monetária dos países.
Entenda a diferença entre o bitcoin e a moeda digital
Há diferenças importantes entre o bitcoin e a moeda digital. O bitcoin é uma criptomoeda emitida e distribuída de forma descentralizada, com regras de autogestão pela própria rede de usuários, sem intermediação de uma instituição.
Já a moeda digital, como o real digital, nasce a partir de uma política implementada por uma autoridade monetária nacional. As regras são claras e só operam os agentes autorizados.
Outra questão importante é sobre o uso que se pode fazer com as moedas. Enquanto a bitcoin funciona como um ativo financeiro que só pode ser liquidada em uma moeda nacional ou negociada em ativos no mercado, o real digital poderá ser usado para pagar contas, transferir dinheiro, investir, assim como fazemos com o dinheiro em espécie.
“A CBDC entra como uma forma nativa de liquidar transações nesse mercado com características cripto. A intenção não é levar a moeda para o mercado cripto, é trazer características hoje disponíveis apenas no mercado cripto para dentro do perímetro regulatório do Banco Central, para você permitir uma inovação maior”, explica Araújo.
A vantagem de criar um ambiente para negócios em moeda digital é justamente garantir segurança para operações voláteis. Segundo Araújo, muitas vezes acontecem prejuízos importantes porque as pessoas investem sem entender os riscos. “Os casos estão cada vez mais frequentes, então é melhor trazer as características deste mercado cripto para dentro de um ambiente seguro para que as pessoas tenham acesso a esse serviço”, complementa.
Entenda por que a moeda digital aumenta a cibersegurança
O Banco Central programa que o desenvolvimento da plataforma integrada de operação em moeda digital deve entrar na agenda a partir de 2022. Isso porque as soluções de segurança terão de ser robustas e integradas ao atual ecossistema financeiro nacional.
A infraestrutura de operação financeira do Banco Central nunca teve registro de falhas, porém, a moeda digital pode acentuar os golpes e fraudes.
Uma questão central é a segurança pública. No caso do pagamento com Pix, por exemplo, houve aumento do sequestro das vítimas para saque. O Banco Central limitou o valor para transferência à noite, mas a solução nem sempre estará ao alcance da autoridade financeira.
Araújo explica que o BC pode adotar regras que reduzem o risco, como foi o caso do Pix ou mesmo programar a carteira digital para só funcionar em determinada localização geográfica. “É uma questão de engenharia social ou de segurança pública, que escapa do escopo do
Banco Central. Mas se a tecnologia puder ajudar, vamos implementar”, conclui.
As fraudes e golpes digitais também são uma preocupação, pois a cada anúncio do BC as táticas criminosas são atualizadas. Os ataques normalmente ocorrem à margem do sistema financeiro nacional.
As vítimas são cooptadas por métodos de phishing ou roubo de senhas. Neste caso, é o próprio consumidor que vulnerabiliza as informações, enganado por um golpista ardiloso. Se um criminoso tiver acesso ao login e à senha do banco, o acesso poderá ser concedido.
O universo tecnológico proporciona cada vez mais facilidades para transações, compras, vendas e pagamentos. Mas é importante o consumidor estar atento para os dados pessoais e financeiros e adotar uma conduta preventiva desde já. Mesmo assim, a engenharia social, ou seja, táticas enganosas para roubar informações ou dinheiro, não é previsível.
Da mesma forma, os ataques hackers a e-mails ou outras contas pessoais onde possam estar guardadas suas informações também são usuais. Todos os cuidados são importantes. Além do uso atento, o monitoramento regular do CPF é uma estratégia inteligente para aumentar a sua segurança.
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